Ilha da Trindade Instituto Histórico e Geographico do Brazil - Parte 2 (1501 / 1895)
Partindo de Lisboa a 5 de março de 1501, nessa viagem para a Índia, João da Nova, navegador português, descobriu a ilha da Ascensão, hoje ilha da Trindade, situada a 120 léguas da costa do Brasil. Está localizada no Oceano Atlântico, a 20 graus e 31 minutos de latitude sul e 18 graus, 47 minutos e 57 segundos de longitude leste do meridiano do Rio de Janeiro.
Tem cerca de três milhas em sua maior extensão, de NNO a SSE, e aproximadamente seis milhas de circunferência.
Acidentada e de natureza vulcânica, a ilha apresenta um terreno de montanhas elevadíssimas e escarpadas. Esses rochedos, desprovidos de vegetação, assemelham-se a monumentos de uma natureza inerte.
Não se encontra ali nenhuma árvore, nem mesmo um arbusto; tudo é árido, triste e estéril, reinando uma melancolia profunda nesses penhascos altivos e solitários na imensidão do oceano.
Toda a ilha parece uma grande rocha, cujo pico maior, segundo as cartas inglesas, mede cerca de 3.000 pés. Os altos penhascos, de formas caprichosas, com arestas vivas e nuas, sustentam, por equilíbrio desconhecido, grandes massas de granito, dispostas de forma caprichosa, e todas inacessíveis.
Entre os penedos elevados, nota-se no litoral oeste o "Monumento", assim denominado por alguns roteiros, com 64 metros de altitude. Na extremidade norte, há outro chamado "Crista de Galo". A leste, encontra-se outro penedo de cor avermelhada, com 66 metros de elevação acima do nível do mar e 300 metros de base.
As faces dessas formações são verticais e desprovidas de vegetação; o Morro do Furado, assim chamado por apresentar na base um túnel construído pela natureza, perfura a rocha de lado a lado com 133 metros de comprimento, permitindo a passagem das águas do oceano que ali se precipitam com fúria insana.
Ao sul, ergue-se outro rochedo piramidal chamado Pão de Açúcar, com 390 metros de altitude, semelhante ao que existe na entrada da barra do Rio de Janeiro. No centro da ilha, há outro ponto que forma o pico culminante.
Quase todo o litoral é circundado por recifes rochosos, sobre os quais as ondas do mar se chocam com fúria indômita, produzindo, especialmente à noite, um rugido aterrador. As costas abruptas são cortadas em picos e lavadas incessantemente pelo barulho das ondas, que nelas se lançam com força incontrolável.
Ao norte, há as praias Sem Nome, Empedrado, Tartarugas e Porto das Canoas, pequenas e margeadas por recifes, alguns emergidos e outros submersos. No lado sudeste, há uma pequena praia de areia muito branca, na única enseada que a ilha possui, chamada Porto do Príncipe, onde se vê uma ilhota de pedra.
Das montanhas descem pequenos filetes de água, mas não se pode assegurar que sejam perenes ou se extingam em certas estações do ano.
Nada floresce, como já dissemos, nesses penedos de completa aridez; apenas em alguns lugares onde a rocha está revestida por uma fina camada de terra, cresce um capim rasteiro