Para o professor Antônio Cândido, Florestan Fernandes foi o único grande homem de sua geração; o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso fala do amigo com a reverência de um filho para um pai, inclusive nas discordâncias; os ministros José Dirceu e Luiz Gushiken lembram do político como dois discípulos de sua conduta, acrescida de uma dose de pragmatismo; o ex-ministro Jarbas Passarinho sustenta que discordavam ideologicamente, mas os unia a afinidade intelectual; a professora Mirian Limoeiro sustenta que ele fez da sociologia uma ciência; o deputado Ivan Valente fala do marxista aberto a todas as discussões; seu filho, Florestan Fernandes Júnior, lembra do eterno otimista. Todos estão juntos nesse documentário.
O filme percorre os caminhos mais duros da sua infância no Brás, por onde andou carregando sua caixa de engraxate em direção ao centro histórico e às portas dos grandes cinemas, ou subindo o morro dos Ingleses, para entregar ternos nas mansões da burguesia paulista. Trabalhava como garçom quando, aos 17 anos, resolveu cursar o que na época era chamado madureza, hoje supletivo, para despontar depois na primeira geração de professores brasileiros da Universidade de São Paulo (USP) e ser considerado o maior sociólogo brasileiro, uma referência internacional na sociologia.
Eleito duas vezes pelo PT, era um ícone na Câmara dos Deputados, sempre tratado de professor. Foi aluno de Roger Bastide e Claude Lévi-Strauss, professor de Fernando Henrique Cardoso e Otávio Ianni, colega de Antônio Cândido e Hermíno Sachetta, com que trilhou o trotskismo.
Suas primeiras grandes obras, das mais de 50 que publicou, foram sobre a sociedade dos índios Tupinambá, tribos da faixa litorânea praticamente extintos desde o século XVII. Elas se tornaram uma referência para a sociologia em geral e para sua vida em particular. Sobre sua formação escreveu:
“...descobri que o 'grande homem' não é o que se impõe aos outros de cima para baixo, ou através da história; é o homem que estende a mão aos semelhantes e engole a própria amargura para compartilhar a sua condição humana com os outros, dando-se a si próprio, como fariam os meus tupinambá”.
Florestan Fernandes morreu aos 75 anos, em 10 de agosto de 1995, vítima de dois erros médicos no Brasil.
Este documentário recebeu em 2004 o prêmio Vladimir Herzog, a mais importante premiação jornalística da área de direitos humanos do país.
Ficha Técnica
Direção, Edição e Pesquisa: Roberto Stefanelli
Edição de Imagens: Joelson Maia
Entrevistas: Ana Maria Lopes, Tarcísio Holanda e Roberto Stefanelli
Direção de Fotografia: Francisco Nilton e Carlos Alberto
Abertura: Wagner Maia
Narração: William Galvão
Produção: André Laquintinie, Roberto Stefanelli, André Bessa Maia e Joelson Maia
Imagens: Antônio Rosa, Cláudio Adriano e Brás Vieira
Auxiliares: Adair Alves, Gabriel de Azevedo e Alexandro Santos
Duração: 50 minutos
Da TV Câmara