É arquiteto, poeta e escritor. Foi jornalista, professor e desenhador, mas também publicitário e ator. Levou mensagens clandestinas do PCP (m-l) para Paris, foi amigo de Ary dos Santos, partilhou o palco com Zeca Afonso, mas ficou conhecido no programa A Visita da Cornélia, em que ficou 13 semanas no pódio. Se não fossem os Beatles e um frasco cheio de orelhas cortadas - que um professor do Colégio Militar lhe mostrou - tinha seguido uma carreira no Exército, o que fazia sentido para quem tinha como herói Mouzinho de Albuquerque. Aos 67 anos, diz de si mesmo que, afinal, é uma coisa só: um contador de histórias, com um único sonho - vir a ser palhaço. Se é verdade que a vida dá muitas voltas, a de José Fanha é uma espécie de tontura.
É conhecido como poeta e escritor, mas o curso que tirou foi Arquitetura. Porquê esta área?
Era a coisa mais distante daquela que o meu pai queria. Ele era militar e queria que eu seguisse essa carreira.
Tudo o que tem feito vai no sentido oposto ao que aprendeu no Colégio Militar: as regras, a hierarquia rígida...
Eu gostei muito de estar no Colégio Militar.
Vê isso agora ou na altura já gostava?
Na altura, gostava razoavelmente. Para mim o Colégio Militar era a guerra, um mundo que estava sempre presente, o meu pai era do curso do Costa Gomes e do Spínola.
Na sua família, eram todos militares?
Sim. A família do meu pai é uma família camponesa do Entroncamento, os Fanhas são todos da Meia Via. A família da minha mãe era de origem burguesa do final do século XIX, mas eram todos militares, ligados aos caminhos-de-ferro. Um dos ramos da minha família materna era judeu e veio para cá um engenheiro (judeu), muito culto, de origem alemã, para fazer a primeira linha de comboios. Teve três filhas, todas elas se casaram com portugueses. Eu ainda tenho o apelido alemão - Krusse. Já a minha avó materna foi educada pelo avô - os pais morreram muito cedo - e é esse avô que me fascina.
Era também militar...
General de engenharia, imagino que seria o topo do bem-pensar, de grande educação. A minha avó era uma mulher cultíssima, contava-me que em pequenina ia lá a casa um senhor francês, um Eiffel, que lhe dava festinhas na cabeça. O meu trisavô colaborou com [Gustave] Eiffel no projeto da Ponte D. Maria Pia, no Porto. Esse meu trisavô escrevia poesia, fazia teatro amador e cantava canto lírico.
Foi dele que herdou a veia artística?
Não sei se herdei ou se foi a minha avó que me contou tantas maravilhas dele que fiquei deslumbrado. Chamava-se Jaime Emílio Krusse e a minha avó era Bertha Emília Krusse Gomes.