Nadia e Lamiya: As duas raparigas que o Daesh não conseguiu derrubar

2016-12-14 2

O facto de pertencerem à comunidade yazidi tornou-as alvo do grupo Estado Islâmico. Viram os familiares mais próximos serem assassinados no norte do Iraque, foram raptadas, violadas, convertidas em escravas sexuais. Um dia conseguiram fugir das mãos dos seus torturadores. Nadia Murad e Lamiya Aji Bashar decidiram contar ao mundo o que viveram e tornaram-se porta-vozes do povo yazidi, que o Daesh pretende aniquilar a todo o custo. A coragem destas duas mulheres valeu-lhes o reconhecimento do Parlamento Europeu, através do Prémio Sakharov, que acabaram de receber.

Isabelle Kumar, euronews: Como é que se sentem hoje em dia, depois de tudo o que passaram?

Nadia Murad: Enquanto uma das mais de 6500 mulheres e crianças yazidis que o Daesh tornou reféns, posso dizer que, hoje em dia, sinto-me muito feliz e honrada por receber este prémio. O objetivo do Daesh era calar as nossas vozes, era roubar-nos a honra. Eles consideram que somos menos que nada, olham para nós como corpos que só servem para violar, traficar ou vender. O objetivo deles era acabar com a existência dos yazidis.

euronews: Lamiya, o que é que sentiu quando recebeu este prémio?

Lamiya Aji Bashar: Sendo uma rapariga da comunidade yazidi e tendo sido uma das vítimas das violações do Daesh, este prémio faz-me sentir muito feliz, sinto que é uma grande demonstração de apoio por todos aqueles que foram raptados e derrotados às mãos deste grupo. Milhares de mulheres foram violadas pelo Daesh. Eu sou apenas uma delas.

#SakharovPrize laureate NadiaMuradBasee has dedicated herself to getting the massacre of Iraq’s Yazidis recognised as genocide. More ↓↓ pic.twitter.com/aKkypQUG5M— European Parliament (Europarl_EN) 10 décembre 2016


euronews: Quando contam os momentos aterradores que viveram têm expetativas sobre a tomada de ações concretas?

NM: Nós queremos que o mundo acabe com isto, que castigue aqueles que nos estão a tentar exterminar, que leve os criminosos ao Tribunal Penal Internacional. O nosso objetivo é proteger as mulheres e as crianças, as minorias, as pequenas comunidades como os yazidis, os cristãos que vivem no Iraque e na Síria.

euronews: Para perceber o alcance da corajosa missão que assumiram, é preciso conhecer as vossas histórias. Sei que é difícil falar nisto, mas o que é que aconteceu durante o período de cativeiro? Creio saber que a Lamiya, por exemplo, esteve quase dois anos sequestrada pelo autodenominado Estado Islâmico…

LAB: Estive um ano e 8 meses com o Daesh. Estávamos lá apenas para sermos violadas, vendidas e trocadas por outras mulheres sempre que lhes apetecia. Faziam o que queriam de nós. Tiravam os bebés das mães. As raparigas eram vendidas nos mercados. As mulheres e as crianças eram treinadas para usar armas.

euronews: Que idade tinham as raparigas?

LAB: Algumas tinham apenas 8 anos. Mas havia também mulheres, algumas já com 4 filhos. Todas nós éramos escravas.

Nadia Murad

Nadia nasceu e cresceu na aldeia de Kocho, no nort

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