SEGREDOS
DA
DESCOLONIZAÇÃO
DE ANGOLA
1A PARTE
SEGREDOS
DA
DESCOLONIZAÇÃO
DE ANGOLA
1A PARTE
ALEXANDRA MARQUES
SEGREDOS
DA
DESCOLONIZAÇÃO
DE ANGOLA
1A PARTE
1. A REVOLUÇÃO EM ANGOLA
Sem política definida
Em Angola, «a notícia do golpe de Estado de 25 de Abril surgiu
em pleno cacimbo, na estação má, no tempo das nuvens e do calor
húmido» quando «o céu mostra-se indeciso: não chove, mas também
o Sol não aparece». Para os luandenses o clima caracterizava também
a situação política desde o derrube do regime1. Vivia-se um tempo
de incerteza e expectativa. Certezas nem os novos decisores militares
e políticos da Metrópole tinham quanto ao modelo de descolonização a
adoptar no mais complexo caso ultramarino de transferência do Poder,
reclamado por três Movimentos armados. As populações ultramarinas
(que só conheciam a realidade colonial) não foram efusivas nas
reacções. O 25 de Abril «foi um acontecimento inesperado, distante do
que eram as suas preocupações habituais» e foi, por isso, recebido «com
moderada satisfação»2. «Se é certo que a notícia da mudança de regime
provocou uma enorme surpresa, tanto entre os europeus como entre os
africanos, não é menos verdade que não desencadeou a agitação febril
vista nas manifestações na Metrópole», escrevia o enviado especial da
France Presse3.
O governador-geral foi exonerado na noite de 26 de Abril ficando
o tenente-coronel Soares Carneiro como interino, mas nenhuma
instrução foi recebida sobre a missão das FAP em Angola4. Em Maio,
o comandante -chefe foi substituído pelo general Franco Pinheiro. Somente
com as primeiras declarações políticas em Lisboa foi perceptível
«a diferença de posições entre os órgãos de Estado: a Junta de Salvação
Nacional (JSN), a Coordenadora do MFA e o governo»5. «Não existia
uma visão política homogénea no seio do governo provisório. Na ausência
de coordenação, cada um fazia mais ou menos aquilo que entendia
», diria Mário Soares6. Como Ministro dos Negócios Estrangeiros
(MNE) pretendia «assinar rapidamente um cessar-fogo nos territórios
26 Segredos da descolonização de Angola
em guerra», mas não era essa a vontade do presidente da República que
«tinha de respeitar». A exigência na Metrópole do regresso dos soldados
e a confraternização das tropas portuguesas com os nacionalistas
tornavam «irrealista» a solução Commonwealth lusófona que Spínola
defendera em Portugal e o Futuro, publicado em Fevereiro. Na conversa
com o chefe de Estado, após ter chegado de Paris, o MNE percebeu
que Spínola distinguia autodeterminação de independência, não querendo,
porém, que se fizesse um «cavalo de batalha» sobre a questão:
o essencial seria negociar a paz. Acreditava ser possível convencê-lo «a
ir mais longe» na solução para os territórios africanos. «O importante
era avançar» e depois se veria se era preciso convencê-lo ou «vencê-lo»7.
O plano spinolista era apenas um dos modelos defendidos. Uma «descolonização
negociada» como pretendia Melo Antunes aproximava-se
da de Mário Soares «sem ser exactamente a mesma». «Cada um começou
a trabalhar para seu lado e os dirigentes africanos.