Está lançado o debate da criopreservação de corpos humanos no Reino Unido. A decisão de um juiz britânico conhecida esta esta semana de permitir a uma rapariga de 14 anos entrar num programa de criopreservação após a morte está a alimentar a discussão.
A rapariga soube que tinha um cancro terminal em agosto do ano passado. Pouco tempo antes de morrer, enviou uma emotiva carta ao tribunal a pedir que fosse concedida à mãe a autorização total para tratar dos seus restos mortais e transferi-los para uma instituição dedicada à criopreservação humana — há três no mundo: duas nos Estados Unidos, a Alcor e a Cryonics; e uma na Rússia, a KrioRus.
O juiz Peter Jackson, do Supremo Tribunal de Londres, decidiu quarta-feira a favor da adolescente. Zoe Fleetwood, a advogada da rapariga criopreservada fala-nos de uma jovem mulher “de 14 anos, esperta, inteligente, articulada e determinada”. “Ela conhecia ao detalhe o processo que pretendia realizar, conseguiu convencer-me e ao tribunal da sua maturidade e capacidade para tomar uma decisão destas”, destacou.
Dead teen wins landmark cryogenics High Court battle https://t.co/bQtdFDqJtJ— The Independent (@Independent) 18 de novembro de 2016
O sonho da rapariga é ser ressuscitada quando houver cura para o cancro de que foi vítima e poder continuar a viver. “Tenho apenas 14 anos e não quer morrer, mas sei que vou morrer. Penso que ser criopreservada dá-me uma oportunidade de ser curada e ser acordada mesmo daqui a centenas de anos. Não quer ser enterrada”, escreveu ela ao tribunal.
A rapariga criopreservada não foi identificada por questões legais, mas a imprensa está a referir-se a ela como “JS”. Sem contacto com o pai desde bebé, foi à mãe que confiou o processo, sobre o qual passou meses a estudar.
Também a debater-se contra um cancro, o pai soube há pouco tempo do pedido da filha e opôs-se, acusando as clínicas de criopreservação de lucrarem milhões com a esperança das pessoas. Mas não só.
“Mesmo que o procedimento seja um sucesso e ela for ressuscitada, digamos, daqui a 200 anos: ela pode não encontrar qualquer familiar e nem sequer ter memória do que se passou. Pode acabar numa situação de desespero, por só ter 14 anos, e vai estar nos Estados Unidos”, antecipou.
Criopreservação é uma opção para evitar morte de uma doença incurável?https://t.co/bXWS21KOoY— Sputnik Brasil (@sputnik_brasil) 18 de novembro de 2016
O progenitor recusou comparticipar nos cerca de 30 mil euros necessários para a filha ter acesso à criopreservação. Os avós da menina assumiram a despesa. Mais tarde o pai haveria de se conformar. “Eu respeito a decisão dela. É a última e única coisa que ela me pediu”, terá dito ao juiz o pai, que chegou a estar a fazer tratamento no mesmo hospital da filha sem que ela soubesse da proximidade.
Qual será, no entanto, o futuro de “JS”? Poderá ela de facto ser ressuscitada no futuro? E estará ela apta a poder recuperar a vida que tinha antes da doença?
Cryogenics: does it offer h