No Cazaquistão, os testes nucleares do passado deixaram marcas em mais de um milhão de pessoas. Experiências de vida dramáticas que se tornaram agora parte do corajoso apelo deste país para a erradicação das armas nucleares a nível mundial.
Um mundo livre de armas nucleares – há quem garanta que já foi uma ideia menos utópica. O Cazaquistão tem-se destacado como um país particularmente ativo nas campanhas de erradicação de arsenal atómico.
Astana organizou recentemente um encontro intitulado Building a Nuclear-Weapon-Free World, precisamente sob a temática da desnuclearização, por ocasião do 25o. aniversário do encerramento do famigerado centro de Semipalatinsk, no norte do país, aquele que era o maior espaço de testes nucleares da União Soviética.
The world should never forget what happened on this date on the morning of 1945 … #Nagasaki BulletinAtomic napf pic.twitter.com/lS5fw490RK— The Atom Project (@theatomproject1) 9 août 2016
É ou não possível eliminar este tipo de armamento? O presidente cazaque diz-se otimista. “Seria o apocalipse se um conflito nuclear fosse desencadeado agora. Tudo o que conhecemos arriscaria ser destruído. Não acredito que haja alguém no mundo que não concorde com este argumento. Por isso, temos de ser otimistas, porque é o otimismo que nos faz querer viver, que nos faz criar os nossos filhos e netos e afastar a possibilidade de uma guerra nuclear. Este tipo de encontros destina-se a assinalar o perigo que cada um de nós corre”, afirma Nursultan Nazarbayev.
O risco do terrorismo
Esse perigo nasceu em 1949, ano em que decorreu o primeiro ensaio nuclear em Semipalatinsk. Ao longo das quatro décadas que se seguiram, foram produzidas mais de 450 explosões idênticas. Calcula-se que no Cazaquistão haja mais de 1,5 milhão de pessoas a sofrer das consequências desses ensaios.
Segundo Michael Moller, diretor geral da ONU em Genebra, “o desafio da questão nuclear no mundo fragmentado em que vivemos hoje é que há muitos países que consideram este armamento essencial para a sua estrutura defensiva. Nem sequer ponderam falar de desarmamento. Mas nós temos a responsabilidade de impor esse diálogo.”
Vários especialistas alertam para a necessidade de reforçar a segurança das estruturas nucleares existentes face ao fenómeno do terrorismo. O general francês Bernard Norlain especifica que “o risco que existe não consiste exatamente na ocorrência de explosões nucleares, mas sim na possibilidade de se provocarem incidentes e aí os perigos são, de facto, muito significativos. Por isso é que este encontro foi organizado em Astana, onde se promove justamente o desarmamento nuclear a nível mundial, mas também onde se debatem medidas para erradicar os riscos de acidentes e os riscos inerentes ao terrorismo.”
No final desta conferência internacional, foi produzida uma declaração conjunta para apelar à criação de zonas livres deste armamento junto dos governos do Médio Oriente, da Ásia e da Europa. Isto no âmbito da campanha de erradicação conhecida como ATOM Project.
“Gostava de dizer ao mundo: ‘Acordem, parem com isto!’”
Milhares e milhares de cazaques carregam as cicatrizes de décadas de ensaios nucleares. Uma dessas dramáticas estórias de vida acabou por tornar-se numa inspiração na luta por um mundo sem armas nucleares.
Karipbek Kuyukov tem 48 anos. É originário de uma aldeia perto de Semipalatinsk. Os seus pais foram expostos a radiações nucleares. Karipbek nasceu sem braços. Dedica-se à pintura e acredita que um outro mundo é possível.
“Sempre tive uma grande capacidade de acreditar. Acredito naquilo que faço. Acreditar é metade do caminho. Gostava de poder dizer ao mundo inteiro: ‘Acordem, parem com isto!”. Os terroristas não podem vir um dia a ter acesso a armas nucleares. Vamos juntar as nossas vozes para alcançar este objetivo. O desarmamento nuclear tem de ser total”, diz-nos aquele que se tornou embaixador do ATOM Project.
Estará o mundo pronto para aceitar a chamada Estratégia Cazaquistão 2030?