Viva o pilarense José Lins do Rego

2015-11-26 54

Nascido em Pilar na Paraíba, José Lins do Rego (1901-1957) concentra a maior expressão de sua prosa na decadência da estrutura social e econômica dos latifúndios e engenhos de açúcar, influência de sua infância e adolescência vividas no engenho e seu avô paterno, o coronel José Paulino.

Cursou Direito em Recife, período em que conviveu com o grupo modernista ali emergente, formado por José Américo de Almeida, Gilberto Freire e outros. Ao atuar como promotor em Maceió, onde escreveu seus primeiros romances, tornou-se amigo de Graciliano Ramos, Jorge de Lima e Rachel de Queiroz. Atuou também na imprensa, na vida diplomática e, pouco antes de morrer, foi eleito para a Academia Brasileira de Letras.

Num misto de ficção e lembranças de sua vida de menino, o escritor retrata, no conjunto de sua obra, a vida nordestina na visão de quem participou ativamente dela, num período de grandes transformações de natureza econômica e social, resultado da decadência do engenho que começava a ser substituído pela usina moderna. Isso numa linguagem regionalista, popular e fluida.

Ao contar a história de sua terra, segundo o crítico Peregrino Júnior, José Lins do Rego nos apresenta um “documentário autêntico de toda a vida do Nordeste: o mandonismo dos coronéis, o conflito entre os patriarcas rurais e os jovens bacharéis fracassados, a luta da indústria (usinas) contra o ‘atraso feudal’ (engenhos)”; de acordo com o crítico, “o drama do fanatismo popular, as tropelias heroicas dos bandoleiros soltos a fazer justiça com as próprias mãos, as intrigas miúdas da política municipal”, isso tudo o escritor mostra poeticamente, de forma dolorosa, como a vida de toda a gente dos engenhos, canaviais e das casas-grandes do Nordeste.

A prosa de José Lins do Rego foi dividia, por ele mesmo, em dois ciclos: o da cana-de-açúcar, que compreende “Fogo Morto”, sua obra-prima, “Menino de Engenho”, “Usina”, “Doidinho” e “Banguê”. “Pedra Bonita” e “Cangaceiros” compõem o ciclo do cangaço, seca e misticismo. Além dessas obras, publicou ainda “Riacho Doce”, adaptada para a televisão e cinema, “Moleque Ricardo”, “Pureza”, “Água Mãe” e “Eurídice”.

José Lins do Rego pode não apresentar uma análise crítica e social em suas obras, como a de seu amigo Graciliano Ramos. No entanto, como poucos, transpôs para literatura o imaginário do povo nordestino que, antes dele, só aparecia nas narrativas orais, nos repentes e na literatura de cordel.

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