Na frente de combate entre curdos e radicais islâmicos

2014-11-14 4

Os peshmerga, ou combatentes curdos, assumiram a missão de enfrentar o grupo Estado Islâmico. O confronto no terreno acontece dentro e fora do Iraque, como foi o caso recentemente de Kobani, na Síria.

Acompanhámos as forças curdas até aquele que foi um dos mais violentos pontos de conflito, a cidade de Makhmour, muito perto da capital do Curdistão iraquiano, Arbil. Os peshmerga conseguiram libertar esta localidade das mãos dos jihadistas, assim como muitas outras em torno de Mossul. Mas persistem os receios de um novo braço de ferro. Há bases do Estado Islâmico a apenas dois quilómetros de distância.

Para trás foram deixados escritos nas paredes da cidade, mensagens que os curdos têm estado a tapar ou remover. A vida parece ter ficado em suspensão em Makhmour. Muitos habitantes fugiram. Visitámos o local onde os peshmerga instalaram a base das operações militares. O nível de alerta continua no máximo.

As montanhas em torno de Arbil constituem uma defesa natural. Mas a verdade é que as forças peshmerga têm dois pontos fracos evidentes: o número de combatentes é limitado, assim como o equipamento militar. A maior parte do armamento que possuem tem de 30 a 40 anos. Apesar das circunstâncias, os peshmerga tornaram-se na grande barreira entre o avanço do Estado Islâmico e a região estratégica do Curdistão. Uma luta que tem contribuído para reforçar o sentimento identitário do nacionalismo curdo, havendo várias conjeturas sobre o passo da independência no futuro.

Juntamo-nos aos paramilitares para ir até à linha da frente. O maior risco nesta área é a mira dos snipers que se espalham ao longo das saídas de Makhmour. Chegámos à zona de Perwala. No dia anterior, quatro soldados foram mortos por tiros de morteiro disparados a partir de aldeias nas imediações. O capitão Nashwan orienta as tropas no terreno. “O Estado Islâmico está a espalhar-se pelas aldeias aqui à volta. Todos os dias há confrontos. Eles disparam tiros de morteiro e de armamento pesado, com metralhadoras Aldochka e BKC. Eles estão sobretudo numa aldeia que se chama Khrbaniah, a apenas dois quilómetros, e Rashidiya, a quatro. Atacam-nos durante o dia, normalmente entre o princípio da tarde e o pôr do sol”, afirma.

A emergência dos paramilitares curdos sucedeu-se ao desaire do exército iraquiano que não conseguiu travar o avanço dos combatentes sunitas, que conquistaram uma parte considerável do norte e do centro do país numa questão de dias.

Os combatentes curdos estão sempre em alerta. A vigilância é dificultada pelo facto de os jihadistas não se concentrarem em grupos aqui, mas antes distribuírem-se individualmente pelo terreno, movimentando-se durante a noite. A aldeia de Rashidiya pertence à província de Nínive, uma área que os islamistas radicais anunciam como deles, de onde partem a maioria dos ataques de morteiro contra os peshmerga. O facto de as bases peshmerga serem constantemente atingidas por tiros de snipers que não são detetados ilustra o quão desproporcional é o poderio do arsenal de cada lado.

As bases têm recursos muito escassos. Apesar das conquistas dos peshmerga terem despertado a atenção e algum apoio da comunidade internacional – sobretudo da Alemanha, da Itália, do Reino Unido e dos Estados Unidos -, as ajudas tardam em chegar. O oficial Raed Thaeer explica-nos que “o Curdistão foi dividido em quatro partes, o que também dividou os nossos corações. No entanto, estamos todos juntos enquanto povo curdo seja no Irão, no Iraque, na Síria ou na Turquia. Estamos a defender a nossa nação. Temos armamento tradicional, mas precisamos de equipamento mais sofisticado para poder fazer face aos tanques, por exemplo. Precisamos de rockets também. Precisamos de material para lidar com carros armadilhados, que é o que o Estado Islâmico tem usado. Os peshmerga do Curdistão estão a sacrificar-se em nome de todos os países que combatem o terrorismo.”

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